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2018: Por Que Votaria em Branco Mesmo Que Meu Voto Decidisse a Eleição

Publiquei um artigo na Folha Online em 17 de outubro, dizendo que quem não se sente representado por Bolsonaro ou Haddad pode se sentir livre para votar em branco como opção política.

Passei dias respondendo mensagens de pessoas que se sentiram representadas pelo texto e aliviadas da angustia de optar por quem não querem eleger.

Também dialoguei com eleitores dos dois candidatos.

Os do PT insistem que não cabe dúvida: é Haddad ou o fim da democracia. Estranho raciocínio. É exatamente a democracia que poderá levar Bolsonaro ao poder por uma mesma maioria de brasileiros que elegeu Lula e Dilma, duas vezes cada. Alegar a defesa da democracia deslegitimando um dos resultados possíveis do processo democrático não é um paradoxo?

A crise ética e econômica provocada pelo PT é uma das principais razões pela ascensão de Bolsonaro. Os gênios estrategistas do partido também trabalharam para que o segundo turno fosse disputado contra ele. E conseguiram! Tivesse de fato espirito democrático e genuíno interesse no bem comum, o PT teria se articulado, ainda no primeiro turno, com um candidato de outro partido não contaminado pela degradação que representa hoje para a população. Ciro ou Marina seriam as opções obvias, no seu campo ideológico.

Ao contrário, o lance prioritário de Lula no tabuleiro eleitoral foi isolar e tentar destruir o candidato do PDT. Marina já havia sido triturada, nas eleições de 2014, pela abjeta maquina de propaganda petista, turbinada por centena de milhões de dólares do petrolão e comanda com maestria por João Santana, um Joseph Goebbels tupiniquim. Considero ter sido a mais mentirosa, asquerosa e cruel campanha já feita em eleições, no país.

Não há como eximir o PT da responsabilidade em relação a mais este beco que nos metemos. Por isto, soam patéticos seus apelos para convencer os brasileiros de que são a luz que pode nos livrar das trevas.

Nessa altura do campeonato, é provável que considerem perdida a eleição à presidência. O que buscam é obter o máximo de votos para se legitimarem como lideres da oposição a Bolsonaro. O PT já está disputando as eleições de 2022, como bem me observou um amigo economista.

Votar no bom moço Haddad é fortalecer o jogo de um partido que só deixará de ser nocivo ao país quando assumir publicamente seus graves erros e deixar inteiramente nas mãos da justiça o destino dos seus principais lideres.

Já os eleitores de segundo turno do ex-capitão argumentam que ele é o mal menor porque ao menos fará reformas econômicas, desinfetará a maquina pública do aparelhamento petista e priorizará à segurança para uma população em pânico.

Desconsideram que Bolsonaro tem 27 anos de obscura atividade parlamentar como grande aliado do corporativismo. Nas dez mais importantes votações sobre questões econômicas, neste período, votou junto com o PT em seis, como revelou a Folha esta semana. É um dinossauro nacionalista-estatizante, com um frágil verniz liberal pintado às pressas por seu potencial ministro da economia. Este, por outro lado, não revela exatamente o que fará e, o mais importante, como fará. Tudo pode acontecer. Inclusive alguma coisa dar certo. O mercado já fez a opção por esta roleta russa.

Na segurança pública, as idéias do ex-capitão são toscas, ao gosto do baixo senso comum, além de perigosas e desumanas. Contrariam todos os estudos sérios sobre a matéria.

O Brasil já tem a terceira maior população carcerária do mundo. Quanto mais ela cresce, mais a criminalidade se fortalece, porque nossas prisões são grandes escolas de formação de criminosos. E se baixar a maioridade penal, mais jovens lá serão doutrinados e adestrados.

Bolsonaro ainda sinaliza uma inconcebível licença legal e moral para que a policia mate ainda mais. Fará novas vitimas inocentes e ampliará o já grandioso business das milícias. E, por último, propõe armar a população. Simbolicamente, seria mais apropriado que estimulasse o uso de tacapes. Ornaria melhor com o primitivismo de seus princípios.

Mas a pior parte são seus (pre)conceitos na educação, cultura, meio ambiente e direitos civis. Ameaça fazer uma cruzada messiânica por Deus, Família e Pátria num país de Estado laico, povoado por famílias de todos os tipos e gêneros, num mundo cada vez mais globalizado e demandante de agendas planetárias e sustentáveis.

Nosso curso civilizatório regrediria se ele puder levar a cabo, mesmo em parte, o que já falou sobre currículos escolares, tratados e legislações ambientais, gênero e etnias, tortura e ditadura militar, entre outros temas.

Um parêntesis. Apesar não ter votado no PT na primeira eleição de Lula, achei que o país ganharia com sua passagem pelo poder. Supunha que a experiência tornaria ele e seu partido melhores. Ledo engano. Regrediram e se corromperam. Hoje, parecem ter orgulho de demonstrar que nada aprenderam em 16 anos.

Caso Bolsonaro seja eleito, subirá a rampa do Planalto como um político despreparado, autoritário, preconceituoso e populista. Temos que esperar que ele também não desperdice a chance de desce-la mais civilizado.

Por hora, não são infundados os temores com a provável posse de Bolsonaro. Como não seriam se fosse Haddad, por outros motivos.

Mas democratas devem respeitar o que quer a maioria, enquanto ela se manifesta dentro da lei.

Vivemos em um Estado de Direito. Temos uma estrutura institucional independente operando regularmente. Nossa Constituição está completando 30 anos e, mesmo exigindo reformas em pontos que retardam nosso desenvolvimento, contém magnificas cláusulas pétreas que nos protegem, definindo: 1. a forma federativa de Estado; 2. o voto direto, secreto, universal e periódico; 3. a separação dos Poderes; 4. os direitos e garantias individuais.

Esta é a nossa verdadeira arma para enfrentar tanto a bravata, quanto a mentira.

Um eminente CEO me escreveu dizendo que concordava com praticamente todos os pontos do meu primeiro artigo, mas tinha dúvidas sobre a conclusão de votar branco. Me propôs um desafio inteligente: se a eleição dependesse unicamente do meu voto, ainda assim eu teclaria branco?

Confessei nunca ter pensado na hipótese. Mas, se a situação fosse real, continuaria sem parâmetros para equiparar candidatos que apresentam riscos tão elevados e distintos. Como racionalizar e quantificar o que teria desdobramentos mais danosos: o retorno do PT, com seu projeto de poder de preceitos hegemônicos, anacrônicos e criminosos, ou empossar um grupo de aventureiros desqualificados que vocifera contra direitos civis? O calculo das consequências é complexo e imponderável. Nem um Watson da IBM daria conta de prever. Minha única certeza é que o Estado de Direito sobreviverá às duas hipóteses.

Conclui que a minha opção continuaria ser votar branco. Não para ficar em cima do muro, mas para manifestar politicamente a posição de que nenhum dos dois candidatos me representa. São muito distantes do meu projeto de país.

Os votos brancos, mais do que os nulos (que podem ocorrer por erros do eleitor na urna) e as abstenções (que decorrem de múltiplas razões de não comparecimento), podem demarcar com mais clareza quantos brasileiros preferem um Brasil distinto daquele representado por Bolsonaros e Haddads.

Após as eleições, nos restará continuar defendendo a democracia, a liberdade de expressão e a civilidade, e começar a construir, a partir dos escombros dos partidos de centro, um projeto político de cultura realmente liberal que faça sentido para a sociedade, nas próximas eleições.

 

Yacoff Sarkovas
Publicado na página “Movimento pelo Voto Nulo / Facebook” em 27 de outubro de 2018.