Escândalos de corrupção sem precedentes envolvendo governos e empresas; políticos e empresários investigados, condenados e presos; impeachment de uma presidente por irresponsabilidade fiscal; sucessor em risco de queda por improbidade; sociedade polarizada; a maior crise econômica da história; estados e municípios quebrados; segurança pública em colapso.
Como supõe o senso comum, com esta lista extensa de problemas políticos, econômicos e sociais, a imagem do Brasil, dentro e fora de suas fronteiras, está em baixa. Os achados do Edelman Trust Barometer 2017, estudo global que mede o nível de confiança nas instituições em 28 países, refletem essa realidade.
Por muitos anos, a marca Brasil, ainda que distante dos índices de nações como Canadá e Suíça, liderava o último bloco do ranking da confiança: em 2015, ocupava a 13ª posição entre 17 países pesquisados, com um nível de confiança de 38 numa escala de 0 a 100, à frente de China, Rússia, Índia e México. No ano seguinte, perdeu duas posições, mas ainda superava a Índia e o México. Em 2017, o índice brasileiro caiu para 32, empatando com o indiano e ficando à frente somente do mexicano.
Com a sedimentação dos acontecimentos recentes, que ganharam manchetes na mídia global – especialmente depois dos holofotes se voltarem para o país por conta da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos –, é provável que o Trust Barometer de 2018 traga resultados ainda piores para o Brasil. Essa trajetória é bem ilustrada pela sequência de capas da The Economist nesses anos, iniciada com o Cristo Redentor decolando sob o título “Brazil takes off” (O Brasil decola), sucedida pelo Cristo em queda livre com a manchete “Has Brazil blown it?” (O Brasil estragou tudo?) e concluída por uma passista num atoleiro (“Brazil’s quagmire”).
No recorte do estudo que analisa o grau de confiança nas empresas de acordo com seus países de origem, é interessante observar a posição da Coreia do Sul, que há anos se desgarrou da rabeira e tem se aproximado do bloco intermediário, ao lado de países como Itália, Espanha e Estados Unidos. A percepção de valor da comunidade global sobre marcas como Samsung, Hyundai e LG certamente contribuiu para isso.
Esse é o único dado do Edelman Trust Barometer no qual as sociedades dos países pesquisados expressam suas percepções sobre os demais. No restante, o estudo analisa o grau de confiança de cada sociedade em suas próprias instituições: Governo, Empresas, Mídias e ONGs. Na edição de 2017, houve queda em 21 dos 28 países, resultando na perda de três pontos no Índice Global de Confiança, agora de 47. Assim, duas em cada três nações encontram-se no patamar dos Desconfiados (abaixo dos 50 pontos), entre elas o Brasil, com índice de 48.
Mas, se separarmos os níveis de confiança por instituição, constatamos que o responsável por puxar nossa média para baixo é o Governo. No Brasil, os entrevistados atribuíram 24 pontos ao poder público, enquanto as Empresas atingem 61, beneficiadas pela aspiração de ascensão econômica e social proporcionada pelo emprego e pelo acesso a produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida das pessoas. Isso revela que, mesmo envolvendo empresários e executivos, o maior peso dos graves e extensos casos de corrupção recai sobre os Governos.
Não há perspectiva, no curto prazo, de que o índice brasileiro de confiança melhore no exterior. Como demonstra a Coreia do Sul, é preciso construir marcas internacionais, e as nossas que estão inseridas no mercado global – como Havaianas e Embraer – são raras e setorizadas. Já a confiança interna depende de uma mudança na percepção dos brasileiros sobre o poder público. Consideradas as circunstâncias, isso está bem longe de acontecer.